Dicionários
Dicionários(dict), juntamente com as listas (list), tuplas (tuple) e conjuntos (set), são das mais importantes estruturas de dados de alto nível disponíveis embutidas em Python.
Uma metáfora simplificadora para chaves e valores
Imagine um dicionário como uma tabela de duas colunas que permite que busquemos um item, que chamamos de chave, o procurando na coluna da esquerda. Se o encontrarmos podemos consultar na coluna da direita um valor correspondente. Um dicionário é feito de pares chave-valor.
Como regra simplificada, podemos usar como chaves objetos imutáveis, como números, texto (strings) ou tuplas cujos elementos internos também sejam imutáveis. Não podemos usar listas, uma vez que são mutáveis. Já os valores podem ser qualquer tipo de objeto/valor de Python, incluido listas e até mesmo outros dicionários!
Uma explicação mais detalhadas sobre as limitações técnicas dos tipos que podemos usar nos dicionários não cabe neste texto introdutório, mas a sua curiosidade pode fazer você querer ler mais sobre eles em Estruturas de dados (na documentação do Python).
Vejamos um exemplo prático em que um dicionário serve para guardar uma paleta de cores nomeadas, os nomes das cores (strings) vão ser as chaves, e as cores produzidas pela função color()
do py5 vão ser os valores (que podem no final das contas ser usados nas funções fill()
, stroke()
e background()
, por exemplo).
chaves(keys) | valores(values) |
---|---|
“branco” | color(255) |
“preto” | color(0) |
“azul” | color(0, 0, 200) |
“amarelo” | color(220, 220, 0) |
“vermelho” | color(200, 0, 0) |
Em Python podemos definir um dicionário diretamente no código com a sintaxe {chave: valor, }
ou apenas {}
se quisermos um dicionário vazio para começar.
cores = {
"branco": color(255),
"preto": color(0),
"azul": color(0, 0, 200),
"amarelo": color(220, 220, 0),
"vermelho": color(200, 0, 0),
}
Para consultar o valor atribuido a uma chave, acrescentar uma nova chave, ou modificar o valor dela usamos colchetes [chave]
.
cor_fundo = cores['azul'] # obtém a cor atribuida à chave 'azul'
background(cor_fundo)
cores['verde'] = color(0, 200, 0) # acrescentar 'verde' ao dicionário
cores['amarelo'] = color(255, 255, 0) # modifica valor de 'amarelo'
No caso da consulta, se não houver a chave no dicionário, teremos um erro! Se não temos certeza da existência da chave podemos usar uma segunda forma de consulta com .get()
.
cinza = cores['cinza'] # KeyError!
laranja = cores.get('laranja') # Caso não haja 'laranja' obtemos `None`
if laranja: # None é considerado semelhante-a-falso e neste caso
fill(laranja) # em um primeiro momento fill() não executa
# podemos também propor um resultado padrão quando a chave não está lá
roxo = cores.get('roxo', color(200)) # se não houver 'roxo' cinza claro
fill(roxo) # enquanto não houver 'roxo' no dicionário teremos color(200)
Removendo itens de um dicionário
O método .pop(chave)
semelhante ao que existe nas listas, devolve o valor para uma determinada chave, ao mesmo tempo que a remove do dicionário. Mas, ao contrário das listas, não pode ser usado sem argumentos para se obter e remover o último item/valor.
letras_chave = {'A': 1, 'B': 10, 'C': 100}
letras_chave.pop('B')
print(letras_chave)
# Exibe: {'A': 1, 'C': 100}
letras_chave.pop('D') # KeyError!
Se temos certeza de que chave existe, e não estamos interessados no valor, podemos usar a instrução del
, senão podemos usar o método .pop()
com um segundo argumento None
:
del letras_chave['A'] # KeyError se não houver 'A'
letras_chave.pop('D', None) # Seguro, e devolve None se não houver a chave.
Peças de um tabuleiro em um dicionário com tuplas como chaves
"""
Um tabuleiro que permite acrescentar e remover peças com o clique do mouse
O botão da direita põe uma peça "D" e o da esquerda põe uma peça "E"
- Clicando sobre uma peça ela é removida
"""
tam_tabuleiro = 15
tam_casa = 35
meia_casa = tam_casa / 2
borda = 36
tabuleiro = {} # cria um dicionário vazio
cores = {'E': color(200, 0, 0), 'D': color(0, 200, 0)} # cores para as peças
def setup():
size(600, 600)
text_align(CENTER, CENTER)
def draw():
background(200)
for i in range(tam_tabuleiro):
for j in range(tam_tabuleiro):
c = tabuleiro.get((i, j))
if c:
fill(cores[c])
else:
fill(255)
square(i * tam_casa + borda,
j * tam_casa + borda, tam_casa)
if c:
fill(255)
text(c,
i * tam_casa + borda + meia_casa,
j * tam_casa + borda + meia_casa)
# Números nas bordas
fill(0)
for n in range(tam_tabuleiro):
pos = n * tam_casa + borda + meia_casa
text(n, meia_casa, pos)
text(n, pos, height - meia_casa)
def mouse_to_tabuleiro(x, y):
i = (x - borda) // tam_casa
j = (y - borda) // tam_casa
return i, j
def mouse_pressed():
if (borda < mouse_x < width - borda and
borda < mouse_y < height - borda):
i, j = mouse_to_tabuleiro(mouse_x, mouse_y)
if (i, j) in tabuleiro:
del tabuleiro[i, j]
else:
tabuleiro[i, j] = 'E' if mouse_button == LEFT else 'D'
# # Outra versão para remover e acrescentar peças
# # remove peça se houver
# if not tabuleiro.pop((i, j), None):
# # se não houver inclui peça
# tabuleiro[i, j] = 'E' if mouse_button == LEFT else 'D'
Counter
um objeto contador com interface de dicionário
A biblioteca padrão do Python vem com uma estrutura de dados muito interessante que podemos descrever como um “dicionário contador”, collections.Counter
.
Um primeiro exemplo, contando números
Vamos imaginar como exemplo mínimo que queremos contar quantas vezes cada número aparece em uma lista:
from collections import Counter
numeros = [1994, 1994, 1995, 1999, 1999, 1999, 1999, 2011, 2013, 2014, 2014, 2022, 2024]
contador = Counter(numeros)
print(contador)
# Resultado:
# Counter({1999: 4, 1994: 2, 2014: 2, 1995: 1, 2011: 1, 2013: 1, 2022: 1, 2024: 1})
Podemos obter a frequência de um item da coleção original com colchetes, como se fosse uma chave do dicionário criado por Counter
, mas ao contrário de um dicionário comum, em vez de uma excessão KeyError
se o item não existir, teremos 0.
print(contador[1994])
# 2
print(contador[1996])
# 0
Podemos ainda obter uma sequência ordenada que começa pelos itens mais frequentes com o método .most_common()
, é uma lista de tuplas (chave, contagem):
for num, contagem in contador.most_common():
print(f'{num}: {contagem}')
"""
Resultado:
1999: 4
1994: 2
2014: 2
1995: 1
2011: 1
2013: 1
2022: 1
2024: 1
"""
Podemos pedir uma espécie de fatia dos primeiros itens dessa lista passando um argumento n
em .most_comon(n)
. Repare que mesmo pedindo apenas um dos “itens mais comuns”, teremos ainda uma lista de tuplas (nesse caso com uma única tupla dentro).
print(contador.most_comon(2))
# [(1999, 4), (1994, 2)]
print(contador.most_comon(1))
# [(1999, 4)]
Isso pode produzir código um tanto desengonçado:
num, contagem = contador.most_comon(1)[0]
Contando outras coisas
Lembre que um string é um iterável, ou seja, pode ser interpretado como uma sequência de letras:
print(Counter('abracadabra'))
# Counter({'a': 5, 'b': 2, 'r': 2, 'c': 1, 'd': 1})
Exemplo de dicionário com dicionários dentro
Não é incomum termos como valores de um dicionário, outros dicionários. O formato de intercâmbio de infomações JSON (lê-se djeizon, vem de JavaScript Object Notation), é um tanto parecido com isto, em geral é quase uma lista com uma porção de dicionários aninhados dentro.
# Fonte IBGE 2020
estados = {
'MG': {'capital': 'Belo Horizonte', 'pop': 21292666},
'AC': {'capital': 'Rio Branco', 'pop': 894470},
'RJ': {'capital': 'Rio de Janeiro', 'pop': 17366189},
'BH': {'capital': 'Salvador', 'pop': 14930634},
'PR': {'capital': 'Curitiba', 'pop': 11516840},
'AC': {'capital': 'Rio Branco', 'pop': 894470},
'RS': {'capital': 'Porto Alegre', 'pop': 11422973},
'PE': {'capital': 'Recife', 'pop': 9616621},
'CE': {'capital': 'Fortaleza', 'pop': 9187103},
'PA': {'capital': 'Belém', 'pop': 8690745},
'SC': {'capital': 'Joinville', 'pop': 7252502},
'MA': {'capital': 'São Luís', 'pop': 7114598},
'GO': {'capital': 'Goiânia', 'pop': 7113540},
'AM': {'capital': 'Manaus', 'pop': 4207714},
'ES': {'capital': 'Vitória', 'pop': 4064052},
'PB': {'capital': 'João Pessoa', 'pop': 4039277},
'RN': {'capital': 'Natal', 'pop': 3534165},
'MT': {'capital': 'Cuiabá', 'pop': 3526220},
'AL': {'capital': 'Maceió', 'pop': 3351543},
'TO': {'capital': 'Palmas', 'pop': 1607363},
'MS': {'capital': 'Campo Grande', 'pop': 2839188},
}
# Acrescenta estado, a chave é a sigla, o valor um outro dicionário
estados['SP'] = {'capital': 'São Paulo', 'pop': 46289333}
print(estados['ES']['capital']) # exibe: Vitória
A questão da ordem dos itens armazenados
Vale notar que até a versão 3.7 do Python, dicionários comuns não guardavam ou garantiam a ordem das chaves, assim como os conjuntos (sets), agora as chaves ficam na ordem em que foram foram criadas. Mas pode ser legal conhecer OrderedDict
, que foi criado especialmente para esses casos e tem mais métodos relacionados a reordenar os itens.
Fazendo piadas sobre Python e os dicionários
Dicionários em especial são tão poderosos e flexíveis que são usados internamente para fazer funcionar muito da linguagem Python. Isso se reflete nesta piada sobre linguagens de programação:
E se tudo fosse uma lista? LISP
E se tudo fosse uma pilha (stack)? Forth
E se tudo fosse um ponteiro? C
E se tudo fosse um dicionário? Python!
Ou ainda este meme aqui: